No princípio era o genoma da bactéria Mycoplasma mycoides. E os cientistas manipularam-no para criar ADN sintetizado em laboratório. Introduziram o genoma manipulado num citoplasma vazio. E a bactéria cresceu comandada por ordens genéticas artificiais e reproduziu-se em milhões de células. É a primeira vez que a ciência se aproxima tanto da origem da vida. A primeira célula artificial foi anunciada ontem pelo instituto do geneticista Graig Venter, em Rockville, nos Estados Unidos. "É a primeira célula do planeta que tem como pai um computador", anunciou Venter, um homem listado por duas vezes na "Times" como um dos homens mais influentes e um dos mentores da sequência do genoma humano, há dez anos.
O empreendimento começou há 15 anos. Produzir a primeira célula artificial custou 20 milhões de dólares (16 milhões de euros) e era a última corrida anunciada por Graig Venter - a meta é carimbada hoje nas páginas da revista "Science". Graig insiste que não criou vida do zero, pois, apesar de o cromossoma ser artificial, a base foi uma célula já existente. Na realidade, o que fizeram foi a mistura de dois passos que já tinham dado antes: criar um genoma artificial (em 2008) e transplantar um genoma de uma bactéria para outra. Neste caso, tinham eliminado 14 genes da bactéria Mycoplasma mycoides, patogénicos nas cabras, e introduziram sequências de ADN que em vez de terem as letras típicas - A, C, G e T - incluem as iniciais dos investigadores envolvidos no trabalho.
O Futuro "É literalmente um ponto de viragem na relação entre o homem e a natureza. Pela primeira vez, alguém criou uma célula artificial com propriedades predeterminadas"; comentou o biólogo molecular Richard Ebright, da Rutgers University, em Nova Jérsia. Mas as reacções não foram só de espanto: poucas horas após o anúncio, vários cientistas alertaram para a falta de legislação sobre organismos sintéticos e mostraram até algum cepticismo. Em declarações ao "Times", Pat Mooney, do ETC Group (activistas contra a biotecnologia) chamou-lhe o momento da caixa de Pandora. "Teremos de lidar com os resultados desta experiência alarmante", disse.
Para já, os cientistas do laboratório de Venter acreditam que a missão principal destas células artificiais será ajudar a perceber melhor a biologia da vida. A curto/médio prazo, acreditam que no campo da tecnologia poderão contribuir para o desenvolvimento de novos medicamentos, novas fontes de alimentos, e o desenvolvimento de biocombustíveis a partir de uma nova geração de algas em que Venter já está a trabalhar em parceria com a Exxon. A possibilidade de serem usados como base das vacinas na próxima época de produção foi também das primeiras aplicações a ser avançada ontem. O próximo objectivo da equipa, descrito como derradeiro, é conseguirem sintetizar por completo uma célula com capacidades mínimas de sobrevivência - lembre-se que neste caso os lípidos, proteínas e outras moléculas são nesta experiência ingredientes de vida tradicional.
Apesar de Venter ter sublinhado que o sucesso deste método de animar uma célula com ADN artificial não vai ser replicado em humanos, Andrew Brown, colunista do "The Guardian" levou a descoberta para o plano onde deverá andar nos próximos dias: "o problema com os deuses, como observaram os filósofos gregos, é que não são moralmente melhores do que os humanos, apenas mais poderosos."
O empreendimento começou há 15 anos. Produzir a primeira célula artificial custou 20 milhões de dólares (16 milhões de euros) e era a última corrida anunciada por Graig Venter - a meta é carimbada hoje nas páginas da revista "Science". Graig insiste que não criou vida do zero, pois, apesar de o cromossoma ser artificial, a base foi uma célula já existente. Na realidade, o que fizeram foi a mistura de dois passos que já tinham dado antes: criar um genoma artificial (em 2008) e transplantar um genoma de uma bactéria para outra. Neste caso, tinham eliminado 14 genes da bactéria Mycoplasma mycoides, patogénicos nas cabras, e introduziram sequências de ADN que em vez de terem as letras típicas - A, C, G e T - incluem as iniciais dos investigadores envolvidos no trabalho.
O Futuro "É literalmente um ponto de viragem na relação entre o homem e a natureza. Pela primeira vez, alguém criou uma célula artificial com propriedades predeterminadas"; comentou o biólogo molecular Richard Ebright, da Rutgers University, em Nova Jérsia. Mas as reacções não foram só de espanto: poucas horas após o anúncio, vários cientistas alertaram para a falta de legislação sobre organismos sintéticos e mostraram até algum cepticismo. Em declarações ao "Times", Pat Mooney, do ETC Group (activistas contra a biotecnologia) chamou-lhe o momento da caixa de Pandora. "Teremos de lidar com os resultados desta experiência alarmante", disse.
Para já, os cientistas do laboratório de Venter acreditam que a missão principal destas células artificiais será ajudar a perceber melhor a biologia da vida. A curto/médio prazo, acreditam que no campo da tecnologia poderão contribuir para o desenvolvimento de novos medicamentos, novas fontes de alimentos, e o desenvolvimento de biocombustíveis a partir de uma nova geração de algas em que Venter já está a trabalhar em parceria com a Exxon. A possibilidade de serem usados como base das vacinas na próxima época de produção foi também das primeiras aplicações a ser avançada ontem. O próximo objectivo da equipa, descrito como derradeiro, é conseguirem sintetizar por completo uma célula com capacidades mínimas de sobrevivência - lembre-se que neste caso os lípidos, proteínas e outras moléculas são nesta experiência ingredientes de vida tradicional.
Apesar de Venter ter sublinhado que o sucesso deste método de animar uma célula com ADN artificial não vai ser replicado em humanos, Andrew Brown, colunista do "The Guardian" levou a descoberta para o plano onde deverá andar nos próximos dias: "o problema com os deuses, como observaram os filósofos gregos, é que não são moralmente melhores do que os humanos, apenas mais poderosos."
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